Paris 26 Out 2015 - O
consumo excessivo de carnes é
potencialmente cancerígeno, advertiu nesta segunda-feira a agência contra o
câncer da OMS,
num relatório de alto impacto para consumidores e produtores de todo o mundo.
A Agência
Internacional para a Pesquisa sobre o Câncer (IARC, na sigla em inglês),
subordinada à Organização Mundial da Saúde (OMS), colocou o consumo excessivo
de carnes processadas, como embutidos ou frios, no Grupo 1 de risco de levar ao
desenvolvimento de câncer, principalmente o colorretal.
Pertencem a
esta categoria, por exemplo, o tabaco e o amianto. Mas a organização esclareceu
que pertencer ao mesmo grupo "não significa que sejam igualmente
perigosos".
Já o consumo
excessivo de carnes vermelhas em geral - inclusive bovina, suína e ovina - foi
inserido no Grupo 2, como "provavelmente cancerígenas" pelo informe,
rico em indefinições devido à falta de dados conclusivos.
"Os
resultados confirmam as recomendações de saúde pública atuais para que se limite
o consumo de carne", acrescentou Christopher Wild, diretor da IARC.
Os
vegetarianos saudaram este informe, que parece confirmar suas crenças.
"Quantas advertências adicionais de saúde devemos receber para nos darmos
conta de que a proteína animal não é boa para nós?", questionou Jasmijn de
Boo, da britânica Vegan Society.
Quantidades
razoáveis
Especialistas
da França e da Grã-Bretanha, consultados pela AFP, estimaram que tudo é uma
questão de quantidade. Pode-se continuar consumindo carne vermelha, afirmam,
desde que a quantidade não supere os 500 gramas por semana e se busque eliminar
as processadas da alimentação diária.
O instituto
americano da carne (NAMI) criticou o relatório da OMS por considerar que
constitui um "desafio ao senso comum".
Os autores do
informe, acusa a NAMI, "trituraram os dados para chegar a um resultado
específico".
Segundo a
vice-presidente do NAMI, Betsy Booren, como parte da dieta mediterrânea,
Espanha, Itália e França consomem grandes quantidades de presunto ou salames e
"ostentam algumas das expectativas de vida mais longas do mundo e
excelente saúde".
Ian Johnson,
pesquisador de dietas radicado na Grã-Bretanha, afirmou não existirem provas de
que os vegetarianos do seu país "tenham um risco menor de contrair câncer
de cólon que os carnívoros".
Literatura científica
O organismo
da OMS garante ter baseado suas conclusões na "literatura científica
acumulada" e examinada por "um grupo de trabalho de 22 especialistas
de 10 países".
A IARC
conclui que cada porção de 50 gramas de carne processada consumida diariamente
aumenta em 18% o risco de câncer colorretal. E cada porção diária de 100 gramas
de carne vermelha aumentaria o risco em 17% "se a causalidade das
associações entre consumo de carnes vermelhas e câncer colorretal ficasse demonstrada".
O grupo da
IARC admitiu "carecer de dados suficientes para determinar se a forma como
se cozinha a carne influi no risco de câncer".
"Para um
indivíduo, o risco de desenvolver câncer colorretal devido ao consumo de carne
processada é frágil, mas este risco aumenta em função da quantidade de carne
consumida", afirmou Kurt Straif, outro encarregado da IARC.
E os hambúrgueres?
"A carne
processada foi considerada cancerígena para o ser humano, com base em indícios
suficientes segundo os quais seu consumo provoca câncer colorretal",
informou a IARC. Além disso, menciona o risco potencial de câncer de próstata e
pâncreas.
Por carne
transformada ou processada entende-se "a carne transformada por sal,
maturação, fermentação ou outros procedimentos destinados a realçar seu sabor
ou melhorar sua conservação".
A maioria das
carnes processadas é de porco ou de vaca, mas estas podem derivar de outras
carnes vermelhas, ou de aves, vísceras ou subprodutos da carne, como o sangue,
esclareceu a IARC.
Como exemplo das
carnes processadas, o informe citou os hot-dogs ou salsichas de Frankfurt,
presunto, chouriços, corned-beef, carne seca, bem como carnes em conserva e os
preparados e molhos à base de carnes.
Em sua lista
detalhada de exemplos, a OMS evitou mencionar explicitamente os hambúrgueres,
produto à base de carne processada de consumo maciço em escala global, vendido
em redes como McDonald's e Burger King.
As carnes
vermelhas foram classificadas em uma categoria de risco menor do que as
processadas como "provavelmente cancerígenas para o ser humano, com base
em indicações limitadas, segundo as quais seu consumo induz ao câncer".
Por
"carnes vermelhas", o informe diz que se deve entender "todos os
tipos de carnes provenientes dos tecidos musculares" de mamíferos,
incluindo a carne bovina, suína, ovina, equina e caprina.
"O
consumo de carne vermelha ainda não foi estabelecido como causa do
câncer", esclareceu a IARC. No entanto, se a causalidade das associações
mencionadas ficar demonstrada, a carne vermelha poderia ser responsável por 50
mil mortes anuais provocadas por câncer no mundo.
Este número
contrasta com o milhão de mortes ao ano por câncer atribuídas ao tabagismo, as
600 mil associadas ao álcool e as mais de 200 mil ligadas à contaminação
atmosférica.
Fonte: Revista Exame